Cordéis... lírios... delírios... cor de lírios... Ou apenas mais um lugar (comum?!) onde dou vez e cor aos meus delírios!

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Deus é o mesmo ou Conversa de Santo

Sincretismo Religioso - José Luiz Soares
Belo Horizonte – MG, 1935
Sincretismo Religioso
Óleo sobre tela
53 × 103 cm


Deus é o mesmo ou Conversa de Santo

Tardezinha na calçada,
dois cumpade proseando,
um tomando um café,
  e o outro se balançando.
 A cadeira rangendo,
 e o café fumaçando.

Depois de uma golada
Bastião assim falô:
- Ô negoço engraçado!
Ao que o outro retrucô:
- Mas do que tu acha graça?
Posso saber, por favor?

-É dessas coisas de santo,
  que é tudo parecido!   
Só pode Deus ser o mesmo,
o que faz todo o sentido.
Por que só muda o nome,
 tu já tinha percebido?

- Mas que cunversa rapaz?!
Onde tu qué chegá cum isso?
Quer dizer que São José,
é igual ao padim Ciço?
Cada qual obra milagre,
mas muda o compromisso.

- Mas tem uns que muda tudo
inté a religião,
mas é tudo parecido,
num tem diferença não.
O certo é crer em Deus,
e querer menos confusão.

- O povo briga por tudo,
  e de vera, aliás,
até brigar pela fé,
esse povo é capaz.
Deus mesmo num gosta disso,
ele quer ver tudo em paz.

- Agora deixe eu contar
           como o certo é ter fé,          
  tem alguns santo daqui,
  igual os do candomblé,
  todos dois santificado
  e do jeito que Deus quer.

- Por aqui tem a Iara,
que é uma das sereias,
igual a Iemanjá,
e a santa das candeias,
como também é a mãe d’agua,
 no fundo das águas cheias.

- Aqui nóis tem Santa Bárbara,
  que pode ser Iansã.

  E nóis tem também Sant’ana,
  a quem chamam de Nanã
                e se quiser digo mais,               
               e só findo amanhã.              

- Pode ser um encantado,
Ou santo, ou orixá...
Pode-se fazer macumba,
pode-se também rezar,
fazendo mal a ninguém,
Todos têm o seu lugar.

Kércio Prestes