(Foto do muro-mural de minha casa)
Contornando todo o ferro
a beleza da ferrugem.
Cicatrizes, impressões,
ao longo do tempo surgem.
Com relevo específico,
sobressaltos que lhe urgem.
Mostra o ferro num canto...
Um tanto gasto, curtido...
Mas ali alguém inventa,
e dá-lhe novo sentido.
Em eternos descontínuos,
já não é o que tem sido...
Beleza do transitório,
há devir, mas não dever.
Do que só é quando sendo,
é um é sem querer ser.
Que é tão belo quando
se inventa no transver.
Transformado pelo ar,
ganha cor do invisível.
Do tempo, esse pintor,
meio incompreensível,
que altera o que imaginar,
não há nada impossível.
Subverte-se as coisas
até então esclarecidas.
Com a leveza do ar
a rigidez é esculpida.
Questionando-se o peso
e outras tantas “medidas”.
A ferrugem é metáfora
das relações que implica.
Com o contato com outro
um pouco dele ali fica,
recebendo também um tanto,
já também se modifica
Mas não seja inocente
aqui também há perigo,
não se pode distinguir
entre bom ou mau, amigo.
São apenas uns delírios
que eu trago cá comigo...
¹Cordelírio criado após breve contato com as invencionices de Manoel de Barros.